quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Porque razão os nossos políticos trabalham mal?

Se do ponto de vista da minha acção política, a minha experiência ainda é curta, do ponto de vista da minha actividade profissional, há muitos anos que me relaciono com o tecido político, tendo essas minhas relações sido transversais a todo o espectro político nacional. Conheci homens e mulheres muito inteligentes, com muito valor quer intelectual, quer profissional e até com uma atitude ética acima da média, mas conheci também pessoas absolutamente oportunistas, de pouco valor ético, cultural ou profissional, mas com longas carreiras de fidelidade a partidos e/ou barões políticos para não lhes chamar outro nome menos simpático. Esta é a realidade do nosso Portugal Político.
Mas tentemos analisar o porquê desta verdade dificilmente contornável. Peguemos num exemplo prático, também aplicável a outras funções: Como chegar a ser um (mau) Presidente de Câmara. Um cidadão que tenha a pretensão de chegar a líder de um executivo camarário (tenha ele boas intenções políticas, ou apenas sentido de oportunismo) deve começar por se inscrever como militante de um partido, normalmente, na secção da sua residência. De seguida deve demonstrar muita vontade de trabalhar e servir os “senhores” dessa secção e concelhia, nunca discordar deles, e dizer amen a tudo o que esses disserem. Só assim será aceite entre iguais. Mais tarde, depois de muito esperar, e quando a maioria desses senhores estiverem com a “pantufas” calçadas, poderá aspirar a liderar a sua concelhia. Para isso, mais uma vez, não dirá aquilo que pensa, mas sim aquilo que agradará aos militantes activos que o rodeiam, pois só assim poderá contar com o apoio desses para poder formar uma lista que o possa levar à vitoria nessa concelhia. Chegada a hora de falar aos militantes anónimos e pouco activos, continuará a não poder dizer aquilo que pensa, mas sim aquilo que os militantes querem ouvir, afim de conquistar os seus preciosos votos internos no partido para que a liderança seja uma realidade. Há ainda aqueles que para se assegurarem que nada falha, uns meses antes inscrevem como militantes toda a família, vizinhos e conhecidos pagando as quotas pelos mesmos. Sempre são mais uns votos a favor.
Ganha a concelhia, chegará mais tarde a altura de escolher um candidato à Câmara Municipal (excluímos agora, a escolha dos outros lugares autárquicos). Começámos este exemplo por alguém com pretensões a Presidente de Câmara, logo o candidato está escolhido. As promessas feitas aos militantes para conquistar a concelhia mantêm-se válidas. Chegou a campanha eleitoral e também a altura de conquistar os munícipes anónimos e especialmente o eleitores flutuantes, pois os militantes, esses votarão sempre no “seu” partido. Uma vez mais, não poderá dizer aquilo que realmente pensa, mas sim aquilo que a população quer ouvir. E normalmente ganha aquele que conseguir mentir com mais convicção. Foi aquele que melhor chegou ao coração dos eleitores e é agora o novo Presidente da Câmara. Num rasgo de vontade de bem servir a comunidade, pensa formar uma equipa com profissionais de valor que o ajudem a levar a tarefa a bom porto. Mas rapidamente “o partido” o traz à realidade e o lembram que tem de dar lugares remunerados a todos aqueles que o ajudaram a chegar até ali. Então, em vez de acessores e secretárias com qualidade, terá de colocar a “malta” do partido. Aqueles que mobilizaram os militantes, que sempre disseram amen. Mas falta ainda colocar a sobrinha daquele velho militante e o namorado da filha daquela senhora que fez toda a família militante do partido. Bem, lá terá que abrir um concurso especial para colocar também estes. Chegada a hora de apresentar serviço, este não aparece, mas o resto da história já o leitor conhece, pois já deve ter visto esta história em algum local perto de si. Este exemplo aplica-se a qualquer partido sem excepção.

1 comentário:

Anónimo disse...

A sua análise é correcta. É verdadeira por todo o país. A diferença é que há concelhos em que estes profissionais da política gostam da sua terra e apresentam trabalho, muito bom trabalho, apesar de tudo, e há outros concelhos como o da nossa terra em que o resultado é zero. Zero! Nadinha! Zero há 33 anos, é bom não esquecer. Não têm mais desculpa nem perdão. Apenas as abelhinhas que andam à volta da colmeia é que ainda os suportam mas com a secreta ambição de entrar para o favo e molhar o bico, não é?